terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A MULHER CALADA (3) - PROIBIÇÃO DIVINA OU HUMANA?

Um dos trechos bíblicos usados para fundamentar a proibição de a mulher falar ou ensinar foi escrito pelo apóstolo Paulo da seguinte forma:

As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.
1 Coríntios 14:34-35

Vamos levantar aqui alguns questionamentos para entender se este texto ainda é válido hoje, no contexto em que vivemos (República Democrática do Brasil, séc. XXI, ano 2011). Neste post, irei analisar apenas a parte sublinhada colcorida do trecho bíblico, as outras partes analisarei em posts futuros.



Se não é permitido que a mulher fale, há alguém ou algo proibindo-a de falar. Quem é que não permite à mulher que fale? Deus? Algum rei ou imperador da época? Alguma lei da época? Os costumes e valores daquela época? A tradição daquela sociedade? Ou o próprio Paulo?


 Deus e Jesus nunca proibiram a mulher de falar.

Jesus quando chegou em Samaria, poderia ter ido ao encontro dos homens da cidade para lhes anunciar que era o Cristo. No entanto, se revelou uma mulher.

Jesus e a mulher samaritana - imagem retirada do blog O Pregador


E nisto vieram os seus discípulos, e maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe disse: Que perguntas? ou: Por que falas com ela?
Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo?
Saíram, pois, da cidade, e foram ter com ele.
João 4:27-30

E foi através dela que os samaritanos conheceram o Salvador. Se eles tivessem se recusado a dar ouvidos àquela mulher, teriam perdido a preciosa oportunidade.

Se Deus não permitisse à mulher falar, por acaso Jesus (o filho de Deus, o verbo feito carne, o Deus encarnado, o representante da vontade de Deus na Terra) teria se manifestado à uma mulher para que através dela os homens da cidade conhececem o mestre? Não teria ido direto a eles?



Quando Jesus ressusitou, a mesma situação se repetiu. Com 11 discípulos e uma grande quantidade de seguidores, Jesus revelou-se primeiramente às mulheres e pediu a elas que anunciassem aos homens sobre sua ressurreição.

E, entrando no sepulcro, viram um jovem assentado à direita, vestido de uma roupa comprida, branca; e ficaram espantadas. Ele, porém, disse-lhes: Não vos assusteis; buscais a Jesus Nazareno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui; eis aqui o lugar onde o puseram. Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como ele vos disse.
Marcos 16:5-7

E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios. E, partindo ela, anunciou-o àqueles que tinham estado com ele, os quais estavam tristes, e chorando. E, ouvindo eles que vivia, e que tinha sido visto por ela, não o creram.
Marcos 16:9-11


Mais uma vez fica a pergunta: Se fosse desagradável  a Deus que a mulher falasse ou ensinasse, não seria uma contradição que ele aparecesse à mulheres, pedindo que elas fossem aos homens explicar o que estava acontecendo?

Se a vontade de Deus fosse que a mulher ficasse calada, Jesus jamais teria aparecido às mulheres primeiro. Daria esta honra a um de seus amados discípilos. 

Talvez Ele até apareceria a elas primeiro, mas depois diria, "Olha, não fala nada pra ninguém, fica aqui bem quietinha pra nenhum de meus apóstolos se envergonhar de ter ficado sabendo da notícia por meio de uma mulher..."

Imagem retirada do site IURD

 
Agindo assim, Jesus demonstra a todos que a revelação de Deus não obedece hierarquias humanas, e para se alcançar a sabedoria divina, é necessário ouvir as palavras daqueles a quem Deus tem revelado algo, seja esta pessoa um homem, uma mulher, uma criança ou idoso.

Analisando a forma como Jesus agia, é mais fácil acreditar que os homens devem aprender com as mulheres do que o contrário.

Então se à mulher não é permitido falar, esta proibição não vem de Deus. Pode vir de algum costume, tradição, filosofia machista, ou mesmo do próprio apóstolo Paulo. Veja que em outra carta, Paulo fala abertamente que é ele mesmo quem não permite à mulher falar na frente de homens.

[Eu, Paulo,] Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.
1 Timóteo 2:12


Paulo, como pregador do evangelho aos gentios, acabou por ensinar algumas coisas mais baseadas no seu próprio sentimento do que na revelação divina.  Ele mesmo reconhce isto e em muitas cartas deixa claro sua posição pessoal sobre determinado assunto. Por exemplo, quando diz para os solteiros não se casarem, esclare: Isto digo eu, não o Senhor. 1 Coríntios 7:12

Desta forma, conclui-se que a proibição em relação às mulheres falarem na igreja é a opinião pessoal de Paulo sobre o assunto, não é uma ordem dada por Deus.

Continua no próximo post...

Leia também os posts anteriores

A mulher calada - Parte 1

A mulher calada - Parte 2 - Sabedoria Proibida






A MULHER CALADA (2) - SABEDORIA PROIBIDA

Ao silenciar as mulheres, proibindo-as de ensinar e pregar, as igrejas cristãs têm desperdiçado grande parte da sabedoria que Deus dá ao ser humano.

Mulher ensinando - imagem retirada do site Sistema de Trabalho em Casa

Quando Deus criou o ser humano criou macho e fêmea como complementos de um todo. Sendo complementares, cada um carrega em si uma parcela distinta da sabedoria divina.


E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.Gênesis 1:27


Deus poderia dar toda a sabedoria para um único ser humano e todos se sentariam em volta dele para o ouvir e aprender com ele.

Ao invés disto, Deus distribuiu sua sabedoria entre as pessoas e permite que esta sabedoria seja construída de acordo com a experiência de vida da pessoa. Desta forma, todas as pessoas possuem uma parcela de sabedoria de Deus.

Homem ouvindo - imagem retirada do blog Vox Scripturae


Deus fez assim para criar uma interdependência entre as pessoas. Todos nós necessecitamos do conhecimento, sabedoria, entendimento de outrem. Por isto em toda a Bíblia o OUVIR é uma virtude, afinal apenas ouvindo podemos aprender.

Porventura o ouvido não provará as palavras, como o paladar prova as comidas?
Jó 12:11

Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.
Tiago 1:19

Note que quando Tiago diz para o homem ser pronto para ouvir, não especifica à quem deve ouvir. Quanto mais sábia é a pessoa, mais ela busca ouvir as outras à sua volta.

Já viu como as pessoas mais admiradas estão sempre prontas para ouvir? Ouvem as crianças, ouvem os idosos, ouvem as mulheres, prestam atenção até em assuntos sobre os quais não têm muito interesse, muitas vezes apenas por respeito ao outro, para que o outro se sinta importante.

A sabedoria não está em muito falar e sim em escutar. O homem sábio escuta as palavras das mulheres sem nenhum preconceito. Ele sabe que através delas poderá compreender melhor os mistérios de Deus.

Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.

Homem ouvindo - imagem retirada do blog Midia Gospel


Da mesma forma que a Bíblia considera o OUVIR como uma virtude, o não ouvir é considerado como uma forma de ignorância, teimosia. Quanto menos a pessoa ouve, mais arrogante e propensa ao pecado se torna.

Porém não vos tem dado o SENHOR um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje.
Deuteronômio 29:4

Filho do homem, tu habitas no meio da casa rebelde, que tem olhos para ver e não vê, e tem ouvidos para ouvir e não ouve; porque eles são casa rebelde
Ezequiel 12:2

Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje.Romanos 11:8

Porquanto o coração deste povo está endurecido, E com os ouvidos ouviram pesadamente, E fecharam os olhos, Para que nunca com os olhos vejam, Nem com os ouvidos ouçam, Nem do coração entendam, E se convertam, E eu os cure.Atos 28:27


Desta forma, impedir as mulheres de ensinar ou de pregar é, na verdade uma forma de não ouvir as mulheres, uma forma de negar a sabedoria e experiência de vida feminina e apegar-se apenas à parcela masculina da sabedoria divina.

Cumpre-se, então, a parte da escritura que fala daqueles que têm ouvidos mas não ouvem. Na verdade são pessoas de coração endurecido que não querem aceitar os mistérios divinos sob o ponto de vista feminino.

Mulher pregando - Imagem retirada do blog Templo Jovem Virtual

Quem pôs a sabedoria no íntimo, ou quem deu à mente o entendimento?
Jó 38:36

A sabedoria feminina foi dada por Deus. As igrejas só terão a ganhar ao darem ouvidos aos mistérios divinos através da voz das mulheres.



Leia também A mulher calada - parte 1

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A MULHER CALADA (PARTE 1)

Mulher Calada - Foto retirada do blog Mila Jolie

Apesar de todo o esforço de nosso mestre Jesus em desfazer hierarquias (leia as passagens bíblicas: "O maior no reino dos céus" e "Jesus lava os pés dos discípulos"), as igrejas cristãs preferiram estabelecer claras hierarquias, principalmente no que se refere ao domínio do masculino sobre o feminino.

Na verdade, o que estas igrejas fazem é acatar versículos bíblicos que satisfazem seus interesses em detrimento da verdadeira doutrina de Cristo.

Silenciando as mulheres em nome de Deus, os homens conseguiram dominá-las, impondo sua forma de adoração a Deus e criando uma religião parcial que contempla apenas a parte masculina da criação.

O nome de Deus já foi usado nesta terra para diversos fins, inclusive para guerrear e para matar. Mas acredito que a forma mais vil de uso do nome de Deus foi para silenciar as mulheres.

Mulher calada - imagem retirada do blog a mulher na sociedade


As mulheres são mães, são as geradores e guardadoras da vida. Conhecem a dor do gestar e do nascer. Conhecem a dor existencial que cada ser humano traz dentro de si. Conhecem os caminhos da vida.

Isto faz com elas tenham uma sabedoria nata, já gravada em seu DNA, em suas células, em seu próprio corpo e em sua alma. A sabedoria da vida. O mistério da vida não compreendido pela razão masculina, nem pelo pensamento lógico, mas pelo sentimento, pela intuição e pela experiência feminina.

Toda mulher nasce com esta sabedoria. E com os dias de experiência, vai se tornando cada vez mais sábia em relação aos mistérios da vida. Isto faz das mulheres mestras natas.

Nenhum ser humano pode viver bem, sem ter sido nutrido, amado e instruído por uma mulher. Nem mesmo o próprio Deus escapou a isto. Tendo que vir à Terra em forma humana, teve que ser gerado, nutrido, parido, amamentado, amado e instruído por uma mulher.

Mulher calada - imagem retirada do blog Igreja é você quem faz


Fechar os ouvidos à sabedoria daquela que nos dá a vida é desrespeitar a própria vida.

Se Deus confiou na mulher para dar-lhe a missão tão grandiosa de carregar em seu ventre a criação divina, por que a proibiria de ensinar?

Querem dizer então que aquela que tem capacidade divina para gerar, carregar e guardar a vida dentro de si, não teria capacidade para instruir esta mesma vida?

Ao silenciar as mulheres, as igrejas silenciam as detentoras do saber dos mistérios da vida. Preferem permanecer na mediocridade da inteligência racional masculina do que se render à grandeza da sabedoria intuitiva feminina.

A única razão para isto é o medo. Os homens são medrosos. Têm medo da sabedoria feminina. Medo de que a sabedoria feminina tire-lhes o posto de dominador conquistado pela força através de lutas e batalhas sangrentas.

Mulher calada - imagem retirada do blog Felipe e Flávia Costa


Dizer que a mulher não pode ensinar é o cúmulo do desrespeito e ingratidão para com a mulher e para com Deus. Deveríamos então corrigir aquilo que Deus criou? Diríamos a Ele que aquela que ele criou para abrigar a vida humana em seu corpo seria incapaz de guiar os seres humanos através de seus conselhos?

Lembremo-nos que NUNCA nosso mestre Jesus proibiu as mulheres de falarem ou ensinar. Antes ao ressucitar apareceu a elas e as ordenou que fossem FALAR, ANUNCIAR, TESTEMUNHAR aos apóstolos sobre a sua ressurreição.

Ele confiava interiamente nelas para que ensinassem aos homens sobre seus mistérios.





domingo, 4 de dezembro de 2011

Religiosidade e padronização


Uma das coisas que me incomodam nas igrejas é a padronização.

Uma das frases que já ouvi inúmeras vezes: "Deus nos quer todos iguais." DISCORDO. Se Deus nos quisesse todos iguais não teria se dado ao trabalho de fazernos todos diferentes.

Acontece que é mais fácil manter a igreja em ordem impondo regras que padronizam e uniformizam as pessoas. Nas igrejas mais tradicionais, esta padronização chega até mesmo ao vestuário, padronizando a aparência das pessoas.

Quando se trata das mulheres então, esta padronização da aparência segue rígidas normas que farão com que elas muitas vezes tenham que tomar atitudes antinaturais nas tarefas mais corriqueiras do cotidiano, para conseguirem se ajustar às normas.

Quer um exemplo? Sentar-se. Um ato tão natural que a maioria das pessoas não vão nunca parar para pensar em como está fazendo isto. Mas para mulheres evangélicas, obrigadas pela doutrina religiosa a usarem saias sob quaisquer cirscuntâncias, este simples ato tem que ser muito bem pensado.

Sentar-se em um banco ou sofá muito baixo pode ser um problema. Sentar-se em um degrau de escada ou meio fio, nem pensar. Mesmo naquela cadeira confortável no serviço, pode ser um desafio manter o equilíbrio do corpo sem poder abrir as pernas (já parou para perceber o quanto o corpo fica mais equilibrado e o quanto é mais fácil manter uma boa postura quando você se senta com as pernas ligeiramente abertas?)

Além do cumprimento das regras poderem exigir de nós atitudes antinaturais, podem também exigir de nós que façamos coisas que vão contra nossos valores.

Como assim?

Cada pessoa nasce com uma missão que faz com que cada uma tenha um caminho diferente a seguir. Cada uma tem uma história de vida diferente que faz com que sua compreensão de mundo seja diferente mesmo daqueles com quem convive diariamente. Cada pessoa tem uma personalidade diferente. Cada uma tem gostos, sentimentos, sonhos e realidades diferentes.

Por isto cada uma tem valores diferentes. Impor à pessoa rígidas normas sem espaço para questionamentos é impor valores à custa da anulação dos valores da pessoa. Adotar os valores de outrem, pode muitas vezes significar a violação dos próprios valores.


Neste ponto, as mulheres têm evangélicas têm sofrido bastante. Proibidas de ensinar na igreja, as mulheres há séculos estão apenas absorvendo valores masculinos em suas vidas. São ensinadas e doutrinadas de acordo com valores que são tão contrários à sua natureza feminina, que, por vezes, têm que desistir de ser mulher para ser evangélica.



Além de todas estas diferenças entre pessoas, cada pessoa pode abrigar em si mesma, gostos, sentimentos, sonhos e valores diferentes, dependendo da fase da vida em que se encontra ou dependendo até mesmo de determinada situação.

Um exemplo claro é a mulher que, embora ensinada a não faltar de cultos, começa a faltar depois do nascimento de um filho. Seus valores mudaram e cuidar da criança se torna a missão mais importante de sua vida, independente do que acham as outras pessoas.

Assim, apesar de estarmos dentro da igreja para trabalharmos nosso eu espiritual, podemos muitas vezes acabar por bloquear nossa espiritualidade, pois a padronização através de regras rígidas não nos permite nem mesmo conhecer nosso eu espiritual, muito menos trabalhar pela sua evolução.

As igrejas precisam aceitar a diversidade. As pessoas são diferentes umas das outras. Muitas vezes são diferentes até de si mesmas, afinal eu não sou hoje a mesma que eu era a 10 anos.



A padronização leva à religiosidade.
A diversidade leva à espiritualidade.